terça-feira, 1 de junho de 2010

Má Oclusão de Classe III

mascara de traçao

do aparelho de Fränkel


DEPOIS DE MOLLDADO P A CONFECÇAO DA MASCARA FACIAL







aparelho HAAS

















paciente classe III







O tratamento precoce das más oclusões de Classe III representa um desafio para o Ortodontista. Atualmente, sabe-se que 62% dos
casos de má oclusão de Classe III apresentam envolvimento maxilar, necessitando de alguma forma de protração para sua
correção. Os aparelhos de protração em geral são desconfortáveis e antiestéticos. TURLEY6, em 1988, desenvolveu um método
de obter-se um dispositivo de protração mais confortável e com menor comprometimento estético: a moldagem da face para a
construção de uma máscara facial individualizada. O objetivo deste trabalho é discorrer sobre esta técnica de moldagem, assim
como apresentar um caso clínico tratado com esta metodologia.
UNITERMOS: Má oclusão de Classe III, máscara facial, correção precoce.

















INTRODUÇÃO
Inúmeras formas de tratamento têm sido relatadas para a
correção precoce da má oclusão de Classe III. No entanto, talvez
por muitos casos necessitarem de um tratamento cirúrgico,
pelo baixo grau de cooperação por parte dos pacientes, ou ainda
pela falta de experiência dos profissionais devido à sua baixa
incidência na população caucasiana (5 %)1,4, pouca importância
tem sido dada à correção precoce da Classe III1.
Embora pouco utilizados, existem vários dispositivos para a
intervenção precoce, dependendo do componente envolvido
na má oclusão. Quando a Classe III existe em função da deficiência
da maxila (62 a 63% dos casos)1, pode-se optar pelo uso
da máscara facial ou do sky hook, ambos capazes de promover
a tração da maxila para anterior. Nos casos onde há excesso de
mandíbula, para restringir o crescimento mandibular, pode-se
utilizar a mentoneira ou a tração extrabucal nos molares inferiores,
pouco citada na literatura1. Quando há a associação de
uma deficiência de maxila e uma protrusão de mandíbula, a
melhor alternativa constitui a utilização de aparelhos ortopédicos
funcionais como o RF III de Fränkel para a Classe III1.
Apesar das alternativas de tratamento citadas, a alta incidência
de más oclusões de Classe III com envolvimento maxilar, determina
que o tratamento precoce da maior parte destas más
oclusões envolva a protração maxilar1.
A protração da maxila com intuito de corrigir a Classe III
não é uma opção recente. O primeiro relato sobre o tratamento
com máscara facial foi documentado por Potpeschnigg, em
1875, de acordo com Petit. No entanto, foi Delaire, em 1971, o
responsável pela volta de sua utilização clínica e pela sua popularidade1,2,3,5.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da má oclusão deve ser realizado em relação
cêntrica (RC) para evitar que o desvio da mandíbula para anterior,
em função de contatos prematuros, maximize o problema.
O julgamento clínico, analisando o perfil facial, sempre deve
ser soberano em relação à análise cefalométrica1, a qual junto
com modelos de estudo e fotografias constitui apenas um meio
auxiliar de diagnóstico.
INDICAÇÕES
A terapia com máscara facial está indicada nos seguintes
casos1:
• Retrusão de maxila;
• Deformidades craniofaciais associadas à deficiência maxilar;
• Combinação entre hipoplasia maxilar e prognatismo mandibular;
• Após cirurgias.













ALTERAÇÕES OBTIDAS COM O USO DA MÁSCARA
FACIAL:
Com o uso da máscara facial, pode-se promover um movimento
ântero-inferior da porção posterior da maxila e dos dentes
superiores1,3, uma rotação horária da mandíbula2,5 e uma inclinação
para lingual dos incisivos inferiores1,2,3,5. Há ainda, um
movimento do nariz para frente, reduzindo a concavidade do
perfil, resultando em um perfil mais harmonioso4. Pode-se
observar também, uma redução do ângulo SNB e da proeminência
do pogônio1,2.
TIPOS
Há diversos tipos de máscaras faciais pré-fabricadas disponíveis
comercialmente como a máscara de Delaire, de Petit, de
Tubinger e de Grummons1,2.
No entanto, TURLEY6, em 1988, desenvolveu a máscara facial
confeccionada individualmente por meio da moldagem da face
do paciente. Este tipo de máscara apresenta diversas vantagens:
adapta-se mais facilmente à face do paciente, diminui o
comprometimento estético e conta com a maior colaboração
do paciente já que este participa ativamente da sua confecção,
desde a colaboração durante os procedimentos de moldagem
até a escolha da cor ou a colocação de adesivos6.
CASO CLÍNICO
A paciente M. A. C., leucoderma, com 7 anos e 4 meses,
procurou a Clínica do curso de Pós-Graduação em Ortodontia
para tratamento. Na história clínica relatou que não existiam
outros casos de Classe III na família.
Ao exame clínico apresentava perfil côncavo, retrusão do
lábio superior, e falta de projeção da região zigomática, sugerindo
um hipodesenvolvimento da maxila. O exame intrabucal
revelou que a paciente encontrava-se no 1º período transitório
da dentadura mista, com todos os dentes hígidos e mordida
cruzada anterior (Figura 1). Não havia desvio mandibular da
relação cêntrica para a máxima intercuspidação habitual.
Na radiografia panorâmica, observou-se a presença de todos
os dentes permanentes sucessores (Figura 2). Nenhuma
anomalia foi encontrada nesta radiografia, assim como na radiografia
oclusal de maxila.
A análise cefalométrica evidenciou as medidas apresentadas
na Tabela 1, destacando as seguintes características:
• Perfis ósseo e mole côncavos;
• Padrão de crescimento equilibrado;
• Relação entre as bases apicais desfavorável, com a maxila
bem posicionada e mandíbula protruída em relação à base do
crânio;
• Ângulo nasolabial aumentado, caracterizando uma maxila
retruída.













PLANEJAMENTO
Com base no exame clínico e radiográfico, o seguinte planejamento
foi elaborado:
FASE 1:
• Expansão rápida palatina (Figura 3);
• Tração reversa da maxila (até obtenção de um trespasse
horizontal de aproximadamente 2 mm);
• Contenção noturna com a máscara facial e diurna com o
FR III por aproximadamente 1 ano, durante o qual a paciente
deverá ser avaliada a cada 3 meses;
• Reavaliação, verificando-se a estabilidade do tratamento e
a necessidade de intervenção futura.
FASE 2:
• Mantendo-se uma boa estabilidade da relação ânteroposterior
será utilizado um aparelho fixo para alinhar e nivelar
os dentes permanentes, quando estes irromperem.











Tabela 1 - Medidas cefalométricas iniciais e finais




Medidas Inicias Finais
NAP -5 +4
WITS -7 -4
SNA 81º 84º
SNB 84º 82,5º
ANB -3º +1,5º
SND 79º 79º
FMA 26º 31º
SN.Ocl 15º 16,5º
SN.GoGn 33º 33º
SNGn 60º 63º
H-NB 4º 13º
H-Nariz 12 mm 4 mm
A-NPerp 0 2
P-Nperp + 3,5 mm -2 mm
Ângulo NL 118º 113º
CoA 83 mm 86 mm
CoGn 107 mm 107 mm
Diferença 24 mm 21 mm
AFAI 55 mm 55 mm







MOLDAGEM DO PACIENTE
A primeira etapa para confecção da máscara facial constitui
o preparo do paciente. Todo o procedimento a ser realizado
deve ser minuciosamente explicado à mãe e à paciente. Depois
disso, a mãe retira-se e a paciente permanece desacompanhada
durante toda consulta. Coloca-se uma touca para proteger os
cabelos e um avental para proteger as roupas da paciente6.
A seguir coloca-se uma gaze dobrada em cada olho, protegendo-
os do contato com o alginato (Figura 4A).
Uma massa bem fluída de alginato é colocada sobre todo o
rosto, com exceção do nariz (Figura 4B).
Em cima do alginato aplica-se uma camada grossa de gaze
gessada (Figura 4C). A gaze é colocada aos poucos, em pequenos
pedaços, molhada previamente, conforme as recomendações
do fabricante, de modo a cobrir toda a superfície externa
do alginato. Esta gaze serve de base para a sustentação do
alginato, formando uma espécie de moldeira (Figura 4D).
Após o endurecimento do gesso, a estrutura contendo o
alginato e o gesso é removida da face do paciente (Figura 5A).
Vaza-se o molde da face com gesso pedra. Após a presa
do gesso, separam-se as superfícies(Figura 5B). A máscara
facial é então construída em cima do modelo de gesso obtido
(Figura 5C).
CONFECÇÃO DA MÁSCARA
A armação metálica é confeccionada com fio de aço inoxidável
(1,25 mm), contornando o rosto e uma barra transversal
cruzando a face de um lado ao outro, na altura das comissuras
labiais. À esta barra, soldam-se dois ganchos distanciados 15
mm da linha média para adaptação dos elásticos. Fixa-se a
estrutura no modelo para que as partes sejam soldadas. Uma
vez obtida uma estrutura única, esta é afastada do modelo proporcionando
um alívio das áreas do mento e da fronte e fixada
com cera nesta posição. No modelo, desenha-se o contorno
dos apoios da fronte e do mento, tomando cuidado para que
este não invada a região do sulco labiomentoniano. Cobre-se
com cera o contorno marcado com lápis formando um debrum
para a delimitação do acrílico6.
Acrescenta-se o acrílico ao modelo contendo a armação
metálica e ambos são colocados em uma panela para
polimerização, com o intuito de diminuir o número de bolhas.
Depois, procede-se ao acabamento e polimento6.
Finalmente, forra-se a parte interna dos apoios do mento e
da fronte com um tecido macio para impedir a possível irritação
causada pelo contato do acrílico com a pele6.
Figura 4 - Moldagem para confecção da máscara facial:
A - Preparo do paciente;
B - Aplicação do alginato;
C - Aplicação da gaze gessada;
D - Finalização





INSTALAÇÃO
A máscara facial foi instalada no dia da última ativação do parafuso
expansor (Figura 6). Não há nenhum impedimento para que
esta seja colocada mais precocemente, no entanto, para maior conforto
dos pais e da paciente, preferiu-se aguardar até que a expansão
palatina tivesse sido completada. Os elásticos foram colocados partindo
do gancho situado no aparelho expansor até os ganchos da
máscara, posicionados próximos aos caninos superiores, promovendo
uma tração para baixo e para frente formando um ângulo de
45º em relação ao plano oclusal. A força promovida por estes, foi de
100 a 150 gramas na primeira semana, para melhor adaptação do
paciente6. Depois disso, a força passou a ser de 400 gramas3,6. Os
elásticos eram trocados a cada 7 dias.
A maioria dos autores concordam que a expansão palatina
sempre deve ser realizada antes da protração, com os seguintes
objetivos1,2,5,6:
• Funcionar como um splint para os dentes superiores,
limitando os movimentos dentários indesejáveis;
• Liberar a maxila do contato com as outras suturas da face;
• Iniciar a resposta celular nas suturas, permitindo uma
reação mais positiva frente às forças de protração;





• Iniciar o movimento para frente e para baixo da maxila
retruída;
• Corrigir a mordida cruzada posterior que normalmente
acompanha a má oclusão de Classe III;
• Prevenir a constrição da porção anterior do palato, que
pode ocorrer como um efeito secundário indesejável do tratamento1,2.
A paciente utilizou a máscara facial, em tempo integral, durante
4 meses, até a obtenção do trespasse desejado (Figura 7).
Depois disso, o aparelho expansor foi removido e a paciente
recebeu 2 novos aparelhos. Uma placa com ganchos para
servir de ancoragem possibilitando o uso noturno da máscara
facial (Figura 9). Durante o dia, ela utilizará, como contenção,
um aparelho de Fränkel (Figura 8).
A contenção noturna, com a máscara facial, será utilizada por
mais ou menos 1 ano, assim como a contenção com o aparelho de
Fränkel2,3,7. Após este período, estes aparelhos serão removidos e
será instalada apenas uma mentoneira para uso noturno. As consultas
de retorno ocorrerão a cada 6 meses para monitorização da
estabilidade da correção. Considerando a forte característica genética
da Classe III, recomenda-se que a paciente seja acompanhada
até o final da fase de crescimento.
Pacientes cujo comprometimento estético se restringe à maxila,
normalmente apresentam boa estabilidade no período pós-tratamento7.
Por outro lado, aqueles com grande comprometimento
mandibular podem vir a necessitar de um tempo adicional de contenção7.
O aparelho fixo deve suceder a fase de correção ortopédica,
para que seja obtido um padrão oclusal excelente que irá
contribuir para o controle de um possível crescimento desproporcional
entre a maxila e a mandíbula durante o surto de
crescimento pubescente1.





RESULTADOS
Analisando-se a Tabela 1 verifica-se
que os resultados obtidos concordam
com relatos anteriores da literatura:
• Melhora na convexidade do perfil;
• Aumento do SNA;
• Redução do SNB;
• Diminuição do ângulo nasolabial;
• Aumento do comprimento efetivo
da maxila;
• Rotação horária da mandíbula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A excelente colaboração da paciente
no uso do aparelho, proporcionando
ótimos resultados clínicos
confirmados cefalometricamente (Figura
11), demonstram que o tratamento
precoce da má oclusão de
Classe III, com a utilização da máscara
facial confeccionada individualmente
constitui uma ótima opção de
tratamento.

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