rx da maxila apos a cirurgia
Rx Oclusal Total de Maxila pré-cirúrgico.
Diastema inter-incisivo.
Ilustrações indicando o aparecimento do diastema.
Preparo para confeção do aparelho
Disjunor Palatino.
Ilustração indicando local da Sutura Palatina Mediana.
Antes do procedimento, é necessário que o Ortodontista faça a confecção e instalação de um Expansor Palatino (ou Disjuntor Palatino) que será instalado através de bandas ortodônticas nos primeiros molares e primeiros pré-molares superiores (quando existem).
Ilustração indicando local da Sutura Palatina Mediana.
Antes do procedimento, é necessário que o Ortodontista faça a confecção e instalação de um Expansor Palatino (ou Disjuntor Palatino) que será instalado através de bandas ortodônticas nos primeiros molares e primeiros pré-molares superiores (quando existem).
Atresia Maxilar.
Neste momento entra a figura do Cirurgião Bucomaxilofacial para, através de um procedimento cirúrgico que separa a Sutura Palatina Mediana, permitir que a maxila se expanda até determinada medida
INTRODUÇÃO
A expansão ortopédica maxilar é obtida pela aplicação de força lateral na região dos dentes
superiores posteriores, resultando na separação
da sutura palatina mediana. O objetivo principal
desse procedimento é corrigir a discrepância em
largura entre as bases apicais da maxila e mandíbula,
permitindo uma relação oclusal mais estável
e normal, equilíbrio muscular fi siológico, com os
dentes em relação transversa ideal e com inclinação
vestibulolingual mais adequada.
Desde a reintrodução da expansão ortopédica
feita por Haas em 1961, até recentemente,
grande quantidade de pesquisas tem sido realizada
sobre os efeitos desse procedimento, cujos resultados
têm confi rmado sua efi cácia no tratamento de
discrepâncias maxilares transversais.
PROPOSIÇÃO
Este trabalho tem por objetivo realizar uma
revisão da evolução clínica da expansão ortopédica
maxilar.
Abertura da Sutura Palatina Mediana
O conceito de abertura da sutura palatina foi
relatado pela primeira vez em 1860, por Angell, em
disjunção clínica, quando ativou com duas voltas
por dia o parafuso do disjuntor fi xo, apoiado nos
primeiros pré-molares, e observou em um paciente
a abertura de diastema na linha mediana com
correção da mordida cruzada posterior, concluindo
que houve expansão da sutura palatina mediana.
Desde então, os subseqüentes relatos na literatura
eram opiniões baseadas em achados subjetivos,
pois não existiam radiografi as, naquela época,
para comprovar a abertura da sutura. Na ocasião,
os oponentes a esse procedimento acreditavam ser
anatomicamente impossível e não desejável a separação
dos ossos maxilares na abertura da sutura,
portanto, essa idéia foi rejeitada por seus contemporâneos
e abandonada por algumas décadas.
Goddard, em 1893, resgatou a idéia da expansão,
apresentando o relato de caso de “separação
do maxilar superior na sínfi se”, após a colocação
de aparelho expansor apoiado nos primeiros
pré-molares e primeiros molares. O autor obteve
expansão de 3/32” na distância entre os caninos e
de 1/4” nos primeiros pré-molares.
No início do século XX, ainda havia muita
controvérsia sobre expansão palatina; entretanto, a
repercussão da contribuição de Goddard, aparentemente,
foi bem recebida, pois Landsberger publicou,
em 1910, um protocolo com indicações para a expansão
maxilar. O autor verifi cou que o sucesso da
expansão era maior durante a fase de crescimento,
recomendando o procedimento de expansão mais
lento em adultos jovens, devido à maior resistência
da sutura palatina.
Alguns autores se manifestaram não favoráveis
a esse método, notavelmente Case (1893), Angle
* Diplomada pelo American Board of Orthodontics (in memoriam).
** Diplomado pelo American Board of Orthodontics; Av. Alberto Andaló, 4025 – CEP 15015-000, São José do Rio
Preto, SP; e-mail: robertolima@riopreto.com.br
*** Professora Titular em Ortodontia na UFRJ
523
Evolução Clínica da Expansão Ortopédica Maxilar
J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(53):522-5
(1910) e seus discípulos, os quais popularizaram a teoria
funcional do crescimento ósseo, afi rmando ser a expansão
maxilar conseguida mais fi siologicamente, utilizando-se
fi os metálicos. Acreditavam que, após o nivelamento da
arcada dentária, a função estimularia o crescimento ósseo,
obtendo-se, por meio dessa expansão, todos os benefícios
da disjunção palatina, sem os riscos inerentes a esse procedimento.
Essa fi losofi a funcional foi, portanto, responsável
pela interrupção dessa prática nos Estados Unidos.
Tendo em vista a oposição exercida por alguns
contemporâneos, outros autores como Willis (1911),
Wright (1911), Barnes (1912), Hawley (1912) e Pullen
(1912) continuaram investigando esse método.
Wright (1911), estudando forças mecânicas de
elevada magnitude aplicadas nos dentes, verifi cou que
as mesmas afetavam também as estruturas adjacentes,
além dos dentes. Portanto, de acordo com o autor, o
procedimento em questão, antes de ser aceito, deveria
ser mais pesquisado.
Kemple (1914) e Stanton (1914) acreditavam que a
expansão palatina era um método perigoso, incapaz de
produzir os efeitos desejados. Esse argumento levou a
expansão a ser novamente abandonada por décadas.
Por outro lado, Ortodontistas europeus, representados
por Dewey (1914), Huet (1926), Mesnard (1929),
Korkhaus (1953), Gerlach (1956), Thorne (1956) e Krebs
(1968), continuaram a publicar seus relatos. Apesar de
a expansão palatina ser um procedimento aceito, ainda
não era muito utilizado, devido ao fato de seus efeitos
clínicos não serem totalmente conhecidos.
Mesnard (1929) descreveu as mudanças básicas
que ocorriam com o uso do expansor fi xo maxilar, demonstrando
a separação dos ossos maxilares na linha
mediana e também o abaixamento do palato e do assoalho
nasal como resultado da abertura da sutura.
Embora a literatura, desde o século passado, discuta
a importância da abertura da sutura palatina, nos casos
de respiração nasal restrita, Gerlach (1956) destacou seu
valor no aumento da largura da cavidade nasal e notou
mudanças na base óssea maxilar em modelos, relatando
apenas uma recidiva em nove casos.
Thorne (1956) mediu a expansão palatina em radiografi
as oclusais em série de 40 pacientes, com média
de idade, no início do tratamento, variando entre oito e
15 anos. O autor observou, mesmo não utilizando análise
estatística, o aumento na dimensão transversa em 28
casos que tinham documentação no acompanhamento
pós-expansão. Constatou também expansão média de
6,7mm e expansão basal média de 3,1mm (variação
de 1,3 a 6,5mm). O aumento na largura da cavidade
nasal foi de 0,4 a 5,7mm (média de 1,7mm). O autor
enfatizou a importância da sobrecorreção e do tempo
de duração da contenção, pois cinco pacientes, estabilizados
por apenas dois meses, apresentaram recidiva
na largura nasal, enquanto nove, estabilizados por três
meses, não recidivaram.
Krebs (1968) relatou o caso de uma criança de 11
anos, na qual utilizou implantes para diferenciar a expansão
da base apical da expansão alveolar. Os implantes
foram colocados em cada lado da margem infrazigomática
e nos alvéolos palatinos dos caninos superiores. Radiografi
as póstero-anteriores revelaram que a expansão basal foi
aproximadamente 50% do total da expansão.
Brodie et al. (1938) argumentaram contra a expansão
do arco dentário. Os referidos autores demonstraram
que a movimentação ortodôntica convencional só
alterava o processo alveolar, e as forças aplicadas nessa
movimentação não eram transmitidas às bases ósseas
maxilares e mandibulares, apresentando, portanto,
instabilidade a longo prazo. Este fato foi também verifi
cado por Hellman (1936), Rogers (1936) e Mershon
(1936), em estudos sobre recidiva na expansão do arco
dentário. Tal insatisfação com os protocolos de não
extração contribuiu para aumentar a popularidade de
várias técnicas de extração, defendidas principalmente
por Tweed (1945) e Begg (1961), entre outros.
Embora esse procedimento tenha sido abandonado,
nos Estados Unidos, por um século, na Europa, as
pesquisas clínicas continuaram. Em 1956, a visita de
Korkhaus ao Departamento de Ortodontia da Universidade
de Illinois em Chicago (UIC) contribuiu sobremaneira
para a reintrodução dessa técnica naquele país.
Infl uenciados pelos notáveis resultados cefalomé tricos
obtidos por Korkhaus (1956), Allan G. Brodie (Chefe
do Departamento de Ortodontia da UIC) e Andrew J.
Haas (aluno do curso de pós-graduação desse mesmo
Departamento) passaram a investigar os efeitos da
expansão palatina. Como conseqüência, Haas (1959),
conduzindo estudo experimental em oito porcos submetidos
à expansão palatina, verifi cou que:
(1) o procedimento aparentemente não causava
dor;
(2) em duas semanas, a abertura da sutura foi de
até 15mm, com pouca resistência;
(3) os dentes mandibulares verticalizavam, provavelmente
em resposta às forças alteradas de oclusão
e mudanças no equilíbrio muscular e
(4) a largura internasal aumentava, com alterações
de até 7mm.
Apesar desses resultados, a expansão rápida do
palato ainda era um procedimento muito recente, o qual
só foi mais difundido após os estudos de Haas (1961,
1965, 1970), que contribuíram sobremaneira com os
fundamentos básicos e clínicos, consolidando essa
modalidade de tratamento. Mesmo assim, essa técnica
não foi muito utilizada nos Estados Unidos até o início
da década de 70, principalmente, devido à falta de
estudos comparativos sobre estabilidade a longo prazo.
Nessa época, os estudos, além de serem retrospectivos
e a curto prazo, limitavam-se a relatos de caso.
Anatomia da Sutura Palatina
A maxila é o segundo maior osso do complexo
Evolução Clínica da Expansão Ortopédica Maxilar
craniofacial. Constitui-se de um corpo e quatro processos
que se articulam com os ossos adjacentes do crânio. O
processo frontal articula-se com os ossos: frontal, lacrimal
e nasal; o processo zigomático articula-se com o osso
zigomático; o alveolar aloja os dentes superiores e o
palatino articula-se posteriormente com o osso palatino
e constitui o teto da cavidade oral. Tais estruturas ligam
a maxila via suturas, nas áreas posteriores e superiores,
deixando as áreas anteriores e inferiores livres. Os processos
pterigóides do osso esfenóide estão posicionados
bilateralmente, não possuindo sutura para permitir deslocamento
lateral, e estão interligados com os processos
pterigóides do osso esfenóide, limitando a separação dos
ossos palatinos (Timms, 1981).
As ligações que circundam os ossos maxilares
formam uma unidade forte e resistente, particularmente
com os ossos esfenóide e zigomático, dando origem às
áreas de maior resistência durante a expansão da maxila.
Os dois ossos maxilares se unem pela junção sutural
dos processos palatino e alveolar (Timms, 1981).
Maturação da Sutura e Crescimento Transverso
A resposta às forças ortopédicas, durante a maturação
da sutura palatina maxilar em pacientes ao longo do
crescimento, no tratamento da defi ciência maxilar transversa,
foi amplamente estudada por Björk, Skieller (1974),
Melsen (1975), Persson, Thilander (1977), Korn, Baumrind
(1990) e Melsen, Melsen (1982). Os referidos autores
encontraram grande variação individual, permanecendo
a sutura palatina mediana aberta até aproximadamente
a metade do período da adolescência. Além disso, um
crescimento signifi cativo na maxila ocorre durante o pico
puberal, enquanto que a largura do arco dentário não
aumenta durante a adolescência. Segundo os autores, a
abertura da sutura será bem sucedida durante o pico da
puberdade e talvez até depois.
Segundo Melsen (1972), Ten Cate et al. (1977), as
diferenças observadas na resposta à força ortopédica,
durante a maturação da sutura palatina mediana, foram
relacionadas às mudanças na morfologia da sutura e à
atividade celular que ocorrem ao longo da idade.
A sutura palatina mediana é diretamente infl uenciada
pela expansão rápida da maxila. Melsen (1975)
acompanhou o desenvolvimento dessa em material
de autópsias, do nascimento até o adulto, e verifi cou
que na infância a sutura era em forma de Y, ligando o
vômer ao processo palatino. Durante o período juvenil,
a sutura assume a forma de T e a secção interpalatina
adquire a forma de S. No início da adolescência, a
sutura torna-se denteada com espículas ósseas. Desse
modo, a autora dividiu a maturação da sutura em três
fases e observou que a separação das duas metades
da maxila, durante a terceira fase, não é possível sem
fraturas dos processos interdigitados.
Outros autores como Persson, Thilander (1977),
estudando a época e a velocidade da maturação da
sutura, observaram ossifi cação mais precoce em uma
paciente de 15 anos e mais tardia em outra de 27 anos.
Segundo os autores, o fechamento da sutura acontece
de posterior para anterior, sendo a média de idade
ideal para expansão antes dos 13 anos, demonstrando
também ser possível em indivíduos mais velhos.
Korn, Baumrind (1990), empregando implantes
metálicos, estudaram o crescimento em 31 crianças
de 8,5 a 15,5 anos, através de radiografi as cefalométricas
laterais e póstero-anteriores, mostrando
taxa média de crescimento transverso de 0,43±
0,18mm/ano, confi rmando, segundo os achados de
Björk, Skieller (1974), que o crescimento transverso
posterior é maior que o anterior.
Outros autores, como, Krebs (1968), Wertz,
Dreskin (1977), verifi caram que a resposta às forças
ortopédicas nos pacientes adultos é menor, mais lenta
e apresenta maior recidiva após expansão palatina
maxilar, recomendando procedimento mais lento nesses
indivíduos, devido à maior resistência da sutura
palatina.
Efeitos Clínicos da Expansão Rápida do Palato
Os efeitos clínicos da expansão rápida do palato a
curto prazo, em indivíduos tratados apenas com expansor,
foram muito estudados, assim como sua repercussão
no complexo craniofacial, durante as dentições mista
tardia e permanente (Haas, 1961; 1965; 1970).
A partir da publicação Palatal expansion: just the
beginning of dentofacial orthopedics por Haas (1970),
a técnica passou a ser mais difundida e avaliada por
outros pesquisadores. Trabalhos clínicos sobre expansão
rápida maxilar a longo prazo são raros. Além disso,
o delineamento científi co das pesquisas era e ainda
é questionável (Haas, 1980; 2001; Herberger, 1987).
Os efeitos a longo prazo dessa técnica também foram
estudados por Linder-Aronson (1979), Herold (1989),
Vanarsdall (1999), Lima, Lima (2000), Lima (2001) e
Lima (2003), que destacaram a importância da época
para início do tratamento e do desenho do expansor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de a expansão ortopédica maxilar ter sido
descrita pela primeira vez no fi nal do século XIX, somente
com os conhecimentos obtidos a partir de estudos
anatômicos e histológicos foi possível estabelecer bases
biológicas consistentes para aplicação clínica dessa técnica.
Com isso, houve maior aceitação a partir da década
de 70. Atualmente, esse procedimento é utilizado como
valiosa ferramenta pela maioria dos Ortodontistas para o
tratamento de discrepâncias maxilares transversais.
Lima AL, Lima Filho RMA, Bolognese AM. Clinical evolution of maxillary
Neste momento entra a figura do Cirurgião Bucomaxilofacial para, através de um procedimento cirúrgico que separa a Sutura Palatina Mediana, permitir que a maxila se expanda até determinada medida
INTRODUÇÃO
A expansão ortopédica maxilar é obtida pela aplicação de força lateral na região dos dentes
superiores posteriores, resultando na separação
da sutura palatina mediana. O objetivo principal
desse procedimento é corrigir a discrepância em
largura entre as bases apicais da maxila e mandíbula,
permitindo uma relação oclusal mais estável
e normal, equilíbrio muscular fi siológico, com os
dentes em relação transversa ideal e com inclinação
vestibulolingual mais adequada.
Desde a reintrodução da expansão ortopédica
feita por Haas em 1961, até recentemente,
grande quantidade de pesquisas tem sido realizada
sobre os efeitos desse procedimento, cujos resultados
têm confi rmado sua efi cácia no tratamento de
discrepâncias maxilares transversais.
PROPOSIÇÃO
Este trabalho tem por objetivo realizar uma
revisão da evolução clínica da expansão ortopédica
maxilar.
Abertura da Sutura Palatina Mediana
O conceito de abertura da sutura palatina foi
relatado pela primeira vez em 1860, por Angell, em
disjunção clínica, quando ativou com duas voltas
por dia o parafuso do disjuntor fi xo, apoiado nos
primeiros pré-molares, e observou em um paciente
a abertura de diastema na linha mediana com
correção da mordida cruzada posterior, concluindo
que houve expansão da sutura palatina mediana.
Desde então, os subseqüentes relatos na literatura
eram opiniões baseadas em achados subjetivos,
pois não existiam radiografi as, naquela época,
para comprovar a abertura da sutura. Na ocasião,
os oponentes a esse procedimento acreditavam ser
anatomicamente impossível e não desejável a separação
dos ossos maxilares na abertura da sutura,
portanto, essa idéia foi rejeitada por seus contemporâneos
e abandonada por algumas décadas.
Goddard, em 1893, resgatou a idéia da expansão,
apresentando o relato de caso de “separação
do maxilar superior na sínfi se”, após a colocação
de aparelho expansor apoiado nos primeiros
pré-molares e primeiros molares. O autor obteve
expansão de 3/32” na distância entre os caninos e
de 1/4” nos primeiros pré-molares.
No início do século XX, ainda havia muita
controvérsia sobre expansão palatina; entretanto, a
repercussão da contribuição de Goddard, aparentemente,
foi bem recebida, pois Landsberger publicou,
em 1910, um protocolo com indicações para a expansão
maxilar. O autor verifi cou que o sucesso da
expansão era maior durante a fase de crescimento,
recomendando o procedimento de expansão mais
lento em adultos jovens, devido à maior resistência
da sutura palatina.
Alguns autores se manifestaram não favoráveis
a esse método, notavelmente Case (1893), Angle
* Diplomada pelo American Board of Orthodontics (in memoriam).
** Diplomado pelo American Board of Orthodontics; Av. Alberto Andaló, 4025 – CEP 15015-000, São José do Rio
Preto, SP; e-mail: robertolima@riopreto.com.br
*** Professora Titular em Ortodontia na UFRJ
523
Evolução Clínica da Expansão Ortopédica Maxilar
J Bras Ortodon Ortop Facial 2004; 9(53):522-5
(1910) e seus discípulos, os quais popularizaram a teoria
funcional do crescimento ósseo, afi rmando ser a expansão
maxilar conseguida mais fi siologicamente, utilizando-se
fi os metálicos. Acreditavam que, após o nivelamento da
arcada dentária, a função estimularia o crescimento ósseo,
obtendo-se, por meio dessa expansão, todos os benefícios
da disjunção palatina, sem os riscos inerentes a esse procedimento.
Essa fi losofi a funcional foi, portanto, responsável
pela interrupção dessa prática nos Estados Unidos.
Tendo em vista a oposição exercida por alguns
contemporâneos, outros autores como Willis (1911),
Wright (1911), Barnes (1912), Hawley (1912) e Pullen
(1912) continuaram investigando esse método.
Wright (1911), estudando forças mecânicas de
elevada magnitude aplicadas nos dentes, verifi cou que
as mesmas afetavam também as estruturas adjacentes,
além dos dentes. Portanto, de acordo com o autor, o
procedimento em questão, antes de ser aceito, deveria
ser mais pesquisado.
Kemple (1914) e Stanton (1914) acreditavam que a
expansão palatina era um método perigoso, incapaz de
produzir os efeitos desejados. Esse argumento levou a
expansão a ser novamente abandonada por décadas.
Por outro lado, Ortodontistas europeus, representados
por Dewey (1914), Huet (1926), Mesnard (1929),
Korkhaus (1953), Gerlach (1956), Thorne (1956) e Krebs
(1968), continuaram a publicar seus relatos. Apesar de
a expansão palatina ser um procedimento aceito, ainda
não era muito utilizado, devido ao fato de seus efeitos
clínicos não serem totalmente conhecidos.
Mesnard (1929) descreveu as mudanças básicas
que ocorriam com o uso do expansor fi xo maxilar, demonstrando
a separação dos ossos maxilares na linha
mediana e também o abaixamento do palato e do assoalho
nasal como resultado da abertura da sutura.
Embora a literatura, desde o século passado, discuta
a importância da abertura da sutura palatina, nos casos
de respiração nasal restrita, Gerlach (1956) destacou seu
valor no aumento da largura da cavidade nasal e notou
mudanças na base óssea maxilar em modelos, relatando
apenas uma recidiva em nove casos.
Thorne (1956) mediu a expansão palatina em radiografi
as oclusais em série de 40 pacientes, com média
de idade, no início do tratamento, variando entre oito e
15 anos. O autor observou, mesmo não utilizando análise
estatística, o aumento na dimensão transversa em 28
casos que tinham documentação no acompanhamento
pós-expansão. Constatou também expansão média de
6,7mm e expansão basal média de 3,1mm (variação
de 1,3 a 6,5mm). O aumento na largura da cavidade
nasal foi de 0,4 a 5,7mm (média de 1,7mm). O autor
enfatizou a importância da sobrecorreção e do tempo
de duração da contenção, pois cinco pacientes, estabilizados
por apenas dois meses, apresentaram recidiva
na largura nasal, enquanto nove, estabilizados por três
meses, não recidivaram.
Krebs (1968) relatou o caso de uma criança de 11
anos, na qual utilizou implantes para diferenciar a expansão
da base apical da expansão alveolar. Os implantes
foram colocados em cada lado da margem infrazigomática
e nos alvéolos palatinos dos caninos superiores. Radiografi
as póstero-anteriores revelaram que a expansão basal foi
aproximadamente 50% do total da expansão.
Brodie et al. (1938) argumentaram contra a expansão
do arco dentário. Os referidos autores demonstraram
que a movimentação ortodôntica convencional só
alterava o processo alveolar, e as forças aplicadas nessa
movimentação não eram transmitidas às bases ósseas
maxilares e mandibulares, apresentando, portanto,
instabilidade a longo prazo. Este fato foi também verifi
cado por Hellman (1936), Rogers (1936) e Mershon
(1936), em estudos sobre recidiva na expansão do arco
dentário. Tal insatisfação com os protocolos de não
extração contribuiu para aumentar a popularidade de
várias técnicas de extração, defendidas principalmente
por Tweed (1945) e Begg (1961), entre outros.
Embora esse procedimento tenha sido abandonado,
nos Estados Unidos, por um século, na Europa, as
pesquisas clínicas continuaram. Em 1956, a visita de
Korkhaus ao Departamento de Ortodontia da Universidade
de Illinois em Chicago (UIC) contribuiu sobremaneira
para a reintrodução dessa técnica naquele país.
Infl uenciados pelos notáveis resultados cefalomé tricos
obtidos por Korkhaus (1956), Allan G. Brodie (Chefe
do Departamento de Ortodontia da UIC) e Andrew J.
Haas (aluno do curso de pós-graduação desse mesmo
Departamento) passaram a investigar os efeitos da
expansão palatina. Como conseqüência, Haas (1959),
conduzindo estudo experimental em oito porcos submetidos
à expansão palatina, verifi cou que:
(1) o procedimento aparentemente não causava
dor;
(2) em duas semanas, a abertura da sutura foi de
até 15mm, com pouca resistência;
(3) os dentes mandibulares verticalizavam, provavelmente
em resposta às forças alteradas de oclusão
e mudanças no equilíbrio muscular e
(4) a largura internasal aumentava, com alterações
de até 7mm.
Apesar desses resultados, a expansão rápida do
palato ainda era um procedimento muito recente, o qual
só foi mais difundido após os estudos de Haas (1961,
1965, 1970), que contribuíram sobremaneira com os
fundamentos básicos e clínicos, consolidando essa
modalidade de tratamento. Mesmo assim, essa técnica
não foi muito utilizada nos Estados Unidos até o início
da década de 70, principalmente, devido à falta de
estudos comparativos sobre estabilidade a longo prazo.
Nessa época, os estudos, além de serem retrospectivos
e a curto prazo, limitavam-se a relatos de caso.
Anatomia da Sutura Palatina
A maxila é o segundo maior osso do complexo
Evolução Clínica da Expansão Ortopédica Maxilar
craniofacial. Constitui-se de um corpo e quatro processos
que se articulam com os ossos adjacentes do crânio. O
processo frontal articula-se com os ossos: frontal, lacrimal
e nasal; o processo zigomático articula-se com o osso
zigomático; o alveolar aloja os dentes superiores e o
palatino articula-se posteriormente com o osso palatino
e constitui o teto da cavidade oral. Tais estruturas ligam
a maxila via suturas, nas áreas posteriores e superiores,
deixando as áreas anteriores e inferiores livres. Os processos
pterigóides do osso esfenóide estão posicionados
bilateralmente, não possuindo sutura para permitir deslocamento
lateral, e estão interligados com os processos
pterigóides do osso esfenóide, limitando a separação dos
ossos palatinos (Timms, 1981).
As ligações que circundam os ossos maxilares
formam uma unidade forte e resistente, particularmente
com os ossos esfenóide e zigomático, dando origem às
áreas de maior resistência durante a expansão da maxila.
Os dois ossos maxilares se unem pela junção sutural
dos processos palatino e alveolar (Timms, 1981).
Maturação da Sutura e Crescimento Transverso
A resposta às forças ortopédicas, durante a maturação
da sutura palatina maxilar em pacientes ao longo do
crescimento, no tratamento da defi ciência maxilar transversa,
foi amplamente estudada por Björk, Skieller (1974),
Melsen (1975), Persson, Thilander (1977), Korn, Baumrind
(1990) e Melsen, Melsen (1982). Os referidos autores
encontraram grande variação individual, permanecendo
a sutura palatina mediana aberta até aproximadamente
a metade do período da adolescência. Além disso, um
crescimento signifi cativo na maxila ocorre durante o pico
puberal, enquanto que a largura do arco dentário não
aumenta durante a adolescência. Segundo os autores, a
abertura da sutura será bem sucedida durante o pico da
puberdade e talvez até depois.
Segundo Melsen (1972), Ten Cate et al. (1977), as
diferenças observadas na resposta à força ortopédica,
durante a maturação da sutura palatina mediana, foram
relacionadas às mudanças na morfologia da sutura e à
atividade celular que ocorrem ao longo da idade.
A sutura palatina mediana é diretamente infl uenciada
pela expansão rápida da maxila. Melsen (1975)
acompanhou o desenvolvimento dessa em material
de autópsias, do nascimento até o adulto, e verifi cou
que na infância a sutura era em forma de Y, ligando o
vômer ao processo palatino. Durante o período juvenil,
a sutura assume a forma de T e a secção interpalatina
adquire a forma de S. No início da adolescência, a
sutura torna-se denteada com espículas ósseas. Desse
modo, a autora dividiu a maturação da sutura em três
fases e observou que a separação das duas metades
da maxila, durante a terceira fase, não é possível sem
fraturas dos processos interdigitados.
Outros autores como Persson, Thilander (1977),
estudando a época e a velocidade da maturação da
sutura, observaram ossifi cação mais precoce em uma
paciente de 15 anos e mais tardia em outra de 27 anos.
Segundo os autores, o fechamento da sutura acontece
de posterior para anterior, sendo a média de idade
ideal para expansão antes dos 13 anos, demonstrando
também ser possível em indivíduos mais velhos.
Korn, Baumrind (1990), empregando implantes
metálicos, estudaram o crescimento em 31 crianças
de 8,5 a 15,5 anos, através de radiografi as cefalométricas
laterais e póstero-anteriores, mostrando
taxa média de crescimento transverso de 0,43±
0,18mm/ano, confi rmando, segundo os achados de
Björk, Skieller (1974), que o crescimento transverso
posterior é maior que o anterior.
Outros autores, como, Krebs (1968), Wertz,
Dreskin (1977), verifi caram que a resposta às forças
ortopédicas nos pacientes adultos é menor, mais lenta
e apresenta maior recidiva após expansão palatina
maxilar, recomendando procedimento mais lento nesses
indivíduos, devido à maior resistência da sutura
palatina.
Efeitos Clínicos da Expansão Rápida do Palato
Os efeitos clínicos da expansão rápida do palato a
curto prazo, em indivíduos tratados apenas com expansor,
foram muito estudados, assim como sua repercussão
no complexo craniofacial, durante as dentições mista
tardia e permanente (Haas, 1961; 1965; 1970).
A partir da publicação Palatal expansion: just the
beginning of dentofacial orthopedics por Haas (1970),
a técnica passou a ser mais difundida e avaliada por
outros pesquisadores. Trabalhos clínicos sobre expansão
rápida maxilar a longo prazo são raros. Além disso,
o delineamento científi co das pesquisas era e ainda
é questionável (Haas, 1980; 2001; Herberger, 1987).
Os efeitos a longo prazo dessa técnica também foram
estudados por Linder-Aronson (1979), Herold (1989),
Vanarsdall (1999), Lima, Lima (2000), Lima (2001) e
Lima (2003), que destacaram a importância da época
para início do tratamento e do desenho do expansor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de a expansão ortopédica maxilar ter sido
descrita pela primeira vez no fi nal do século XIX, somente
com os conhecimentos obtidos a partir de estudos
anatômicos e histológicos foi possível estabelecer bases
biológicas consistentes para aplicação clínica dessa técnica.
Com isso, houve maior aceitação a partir da década
de 70. Atualmente, esse procedimento é utilizado como
valiosa ferramenta pela maioria dos Ortodontistas para o
tratamento de discrepâncias maxilares transversais.
Lima AL, Lima Filho RMA, Bolognese AM. Clinical evolution of maxillary
Nenhum comentário:
Postar um comentário