O PSF tem como princípios a universalidade e eqüidade da atenção, a
integralidade das ações, voltadas a permanente defesa da vida do cidadão,
imprimindo uma nova dinâmica de atuação nas unidades básicas de saúde, com
definição de responsabilidades entre os serviços de saúde e a população,
proporcionando o desenvolvimento de ações humanizadas, tecnicamente
competentes, intersetorialmente articuladas e socialmente apropriadas (TRAD &
BASTOS, 1998).
Em relação à saúde bucal das crianças pré-escolares, a literatura consultada
mostra ser este o período de alto risco de alterações bucais, e mesmo assim, os
levantamentos epidemiológicos nesta idade ainda são inexpressivos em relação
àqueles realizados em escolares. A prevalência de cárie varia conforme a idade e o
ceo-d aumenta em relação direta com o aumento da idade (BEZERRA, 1990).
A saúde bucal engloba um conceito amplo no qual a prevenção da cárie
dentária e doença periodontal são só um dos pontos básicos e fundamentais.
Porém, o crescimento harmônico da face e a correta erupção e implantação dos
dentes nas bases ósseas visando uma oclusão balanceada são aspectos que devem
ser levados em consideração dentro do conceito de prevenção. Qualquer programa
de promoção de saúde bucal deveria englobar a Ortodontia preventiva, dada a sua
importância para o desenvolvimento, crescimento e maturação do sistema
estomatognático infantil (FALTIN JR. & FALTIN, 1999).
A cárie dentária é a patologia de maior incidência dentre àquelas que
acometem a cavidade bucal
para acompanhar sua prevalência. No Rio Grande do Norte, diversos estudos em
diferentes municípios mostraram variadas taxas de prevalência para a cárie
dentária na idade de 5 anos.
Em um estudo epidemiológico realizado no município de Arês, foi
observado que o ceo-d nas crianças foi de 3,84 com um maior percentual de dentes
cariados com necessidade de tratamento restaurador na maioria dos casos
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA, 2001).
No município de Ceará - Mirim foi observada uma prevalência de 57,1% de
cárie, ceo-d médio de 2,12 e nenhuma alteração gengival em crianças de 5 anos de
idade. Esse valor quase atingiu a meta da Organização Mundial de Saúde (OMS)
que previa para o ano de 2000 na idade de 5 anos que 50% das crianças nessa
idade deveriam estar livres de cárie (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO
GRANDE DO NORTE, 2001).
Em estudo realizado no município de J undiá foi verificado que 83,92% das
crianças com 5 anos apresentavam cárie. Além disso, foi observado um ceo-d de
6,86, sangramento gengival em apenas 3,6% das crianças e cerca de 52% dos
examinados possuíam algum tipo de má-oclusão, sendo que 44,60% das
maloclusões observadas eram do tipo severo (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO
GRANDE DO NORTE, 2003).
J á nos municípios de São Gonçalo do Amarante (SÃO GONÇALO DO
AMARANTE / RN. Secretaria Municipal de Saúde, 1996) e Pureza (BRASIL,
Ministério da Saúde, 2003b), o ceo-d médio aos 5 anos foi de 3,05 e 3,9 e a
prevalência de má-oclusão foi de 41,93% e 16,13% respectivamente.
Em Natal, foi verificado um ceo-d de 3,45 fortemente influenciado pelo
componente cariado. Nesse estudo 28,70% da amostra encontrava-se com alguma
alteração oclusal (BRASIL, Ministério da Saúde, 2003a).
Em relação à prevalência de hábitos deletérios, SANTOS (2005) observouse
em estudo realizado em Natal, com crianças de 3 a 5 anos de idade, uma alta
prevalência (41%) de hábitos de sucção não-nutritiva na amostra estudada. Foi
verificada uma elevada freqüência de sucção de chupeta em crianças amamentadas
num período inferior a 6 meses.
4 M
ETODOLOGIAA metodologia utilizada para as duas primeiras partes do estudo tomou
como base teórico-metodológica o Projeto SB Brasil (BRASIL. Ministério da
Saúde, 2000) e o Manual de Levantamento Epidemiológico Básico de Saúde Bucal
da Organização Mundial da Saúde (OMS,1997).
A primeira parte foi estimar a prevalência de cárie dentária, má-oclusão e
alterações gengivais através do exame intra-oral. A segunda parte do estudo foi,
através de questionários, avaliar a presença de hábitos deletérios, de problemas
respiratórios e o tempo de amamentação natural na amostra.
A amostra deste estudo foi constituída por escolares de ambos os sexos na
idade de 5 anos atendidos pelo PSF, que não estivessem utilizando e que nunca
tivessem utilizado aparelhagem ortodôntica antes da realização do estudo. A idade
de 5 anos é importante em relação aos níveis de doenças bucais na dentição
decídua , já que podem exibir mudanças em um período de tempo menor que a
dentição permanente em outras idades-índices.
Para a faixa etária estudada foram examinados 50 indivíduos escolhidos
aleatoriamente, que de acordo com a OMS (1997) é um número com
representatividade suficiente para estudos menos complexos e para pequenas
populações.
Para estimar a prevalência de cárie dentária e má-oclusão foram utilizados
respectivamente os índices ceo-d e de má-oclusão que, preconizado pela OMS em
sua versão anterior (1987), foi modificado pela Faculdade de Saúde Pública da USP
em 1996, conforme critérios descritos a seguir:
Normal: ausência de alterações oclusais;
Leve: quando há um ou mais dentes com giroversão ou ligeiro apinhamento
ou espaçamento prejudicando o alinhamento regular;
Moderada/ Severa: quando há um efeito inaceitável sobre a aparência facial,
ou uma significativa redução da função mastigatória, ou problemas fonéticos
observados pela presença de uma ou mais das seguintes condições nos quatro
incisivos anteriores:
Transpasse horizontal maxilar estimado em 9 mm ou mais (overjet
positivo);
Transpasse horizontal mandibular, mordida cruzada anterior igual
ou maior que o tamanho de um dente (overjet negativo);
Mordida aberta;
Desvio de linha média estimado em 4 mm ou mais;
Apinhamento ou espaçamento estimado em 4 mm ou mais.
As alterações oclusais não explicadas nos critérios acima, como, por
exemplo, mordida cruzada posterior (uni ou bilateral), sobremordida ou
transpasse vertical acima de 2 mm, foram incluídas na categoria leve.
O índice
iniciais significam, respectivamente: dentes cariados
ceo-d mede o ataque de cárie dentária à dentição decídua. Suas(c), com extração indicada(e),
devido às dificuldades em identificar os que o foram perdidos devido a cárie e os
que foram perdidos pelo processo natural de esfoliação dentária.
Durante o exame da dentição para cárie dentária foram também observadas
a condição periodontal, avaliada com a utilização do índice AG (alteração
gengival), onde é observado qualquer sinal de sangramento espontâneo em 3 ou
mais coroas, e a necessidade de tratamento.
Os exames clínicos foram realizados por dois examinadores previamente
calibrados, os quais examinaram dez indivíduos nas mesmas faixas etárias. A
calibração permitiu uma maior intimidade com os índices a serem utilizados e o
consenso em relação aos critérios de diagnóstico. A concordância intra e interexaminador
foi determinada reexaminando 12% da amostra, sorteando ao acaso
as repetições sem conhecimento dos examinadores.
Os exames intrabucais foram realizados nas escolas e creches da
comunidade de Cajazeiras, onde as crianças selecionadas da amostra estavam
matriculadas.
Os pré-escolares que foram examinados receberam todas as informações
necessárias de como seriam feitos os exames, com a devida autorizaçãoobturados (o) e a unidade de medida que é o dente (d). Exclui os extraídos
responsáveis (anexo 1). Os indivíduos foram orientados a ficarem sentados em
uma cadeira, onde se podia aproveitar ao máximo a luz natural.
O cirurgião-dentista examinador, devidamente paramentado com avental,
máscara e luvas descartáveis, realizou o exame com auxílio do espelho bucal.
Foram observadas as condições de coroa, gengiva e, a seguir foi realizado o exame
oclusal com o paciente em relação cêntrica. O exame foi rápido, indolor e não usou
qualquer substância antes, durante ou após o exame. O auxiliar anotador ficou ao
lado do cirurgião-dentista e registrou os dados na ficha específica (anexo 2),
utilizando os códigos preestabelecidos de cada índice transmitidos pelo
examinador (BRASIL. Ministério da Saúde, 2000b).
Além do exame clínico, foi utilizado um questionário (anexo 3) previamente
testado em 10% da amostra e aplicados aos pais ou responsáveis das crianças
examinadas contendo oito questões fechadas. Essas questões tiveram o objetivo de
investigar a ocorrência de hábitos parafuncionais (tipo, freqüência e duração), o
número de crianças amamentadas exclusivamente no peito (AME), duração da
amamentação natural e a história médica dos escolares examinados (presença ou
ausência de doenças respiratórias e alérgicas).
Após a realização do levantamento epidemiológico na comunidade, seguiuse
a terceira fase do estudo onde criou-se um protocolo que pudesse atender
pacientes infantis com necessidades de prevenção e tratamento de oclusopatias.
Durante a consulta odontológica na Unidade de Saúde, detectando-se
fatores etiológicos capazes de levar a uma oclusopatia, ou diagnosticando-se
clinicamente uma oclusopatia já instalada, os pais do paciente infantil são
comunicados a respeito da necessidade do tratamento ortodôntico. Modelos de
estudo, radiografias periapicais e fotografias digitais intra e extraorais são obtidas
do paciente para comporem uma documentação ortodôntica “alternativa” a fim de
se planejar o tratamento. Havendo a necessidade de confecção de aparelhagem
ortodôntica esta também é realizada na própria Unidade de Saúde pelo próprio
cirurgião-dentista utilizando materiais e instrumentais básicos. A seguir, a
instalação da aparelhagem é realizada no paciente sendo o mesmo e os seus pais
orientados em relação ao seu correto uso e necessidade de acompanhamento
periódico mensal pelo cirurgião-dentista.